Tricô: a técnica, a arte, o histórico e a origem
- Tânia Maria Vieira de Oliveira
- 18 de mai. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de jul. de 2022
O tricô é uma arte e uma técnica. Uma arte manual que exige bom gosto e uma técnica que exige atenção e paciência. Trata-se, na verdade, de um método de entrelaçar fios, de uma forma específica, para que seja criado uma trama com textura e elasticidade. Para a realização do trabalho manual é necessário o uso de duas agulhas com a mesma numeração e que sejam compatíveis com o fio, de forma que as extremidades da lã ou linha, passem de uma agulha para a outra de maneira regular, entrelaçando os nós e amarrando-os.

O tricô pode ser executado também à máquina, cuja produção é mais rápida e mais fácil para quem sabe manusear o instrumento. Sua textura manufaturada teve início em 1589, quando o inglês William Lee inventou a primeira máquina de tricotar. No entanto, foi somente no século XIX que o uso da máquina de tricô se generalizou em massa, e adquiriu uma forte importância durante as guerras mundiais, na produção de roupas para soldados e civis.
Atualmente, muitas pessoas utilizam o tricô como hobby, outros como terapia e muitos outros como um instrumento para obter ou aumentar suas rendas. Quando os terapeutas indicam o tricô como terapia, é porque eles têm conhecimento de que a prática propicia a calma e canaliza as emoções.
Histórico
Uma arte milenar
Embora seja efetivamente uma prática milenar, existem poucas evidências sobre quando, onde e como terá surgido a arte de tricotar.
No entanto, existem referências antigas, e até achados arqueológicos, que nos permitem traçar um pouco da longa história e evolução do tricô desde a antiguidade.
Segundo fontes disponíveis no Google a técnica do tricô nasceu, provavelmente, no Egito, onde o entrelaçamento era feito com agulhas feitas com ossos ou madeira.

Posteriormente, os belgas levaram essa técnica para o reino Unido, onde as mulheres a desenvolveram para produzirem peças que aquecessem seus filhos e maridos no inverno. Usavam fios de lã pura que elas mesmas produziam e, talvez, seja por isso que o tricô, ainda hoje, faz lembrar o inverno.
A arqueologia também ajudou a recuar cada vez mais no tempo a prática de tricotar, embora seja difícil encontrar peças feitas de lã ou algodão por serem materiais perecíveis. Assim, os objetos mais antigos que se conhecem datam de 1000 a.C., e trata-se de meias descobertas no Egito com desenhos considerados bastante complexos; nesse sentido, os arqueólogos, baseados nessas descobertas, acreditam que a técnica é extremamente antiga, pois para chegar a tal nível de complexidade são precisos muitos anos de tentativas inconclusivas. Em 1964, arqueólogos liderados pelo norueguês Helge Ingstad e a arqueóloga Anne Stine Ingstad descobriram em L’Anse aux Meadows na Terra Nova, província do Canadá, uma agulha de tricô datada de cerca do ano 1.000, possível data de fundação da aldeia viking onde foi encontrada.


Com o passar do tempo, no século XIV, Mestre Bertram, um pintor alemão do Gótico Internacional, que criava principalmente obras religiosas, retratou a Virgem Maria tricotando uma camisola, na pintura a “Visita do Anjo”.
E, nos dias de hoje, as novas tecnologias o reinventaram e produziram belas confecções de malhas para o outono ou verão, trabalhadas com fios mais leves e apropriados.
Os pontos em tricô podem ser desfeitos e o ato de desfazer permite desmanchar todas as malhas já tecidas. Uma coisa muito interessante e muito difícil para quem está aprendendo tricô é desmanchar os pontos de uma peça, mas é muito bom quando se aprende a desfazê-los.
Atualmente a indústria utiliza o desfazimento, chamado de descampionamento. Desfazer os nós já entrelaçados, no entanto, não é algo novo. O desfazer dos nós já era utilizado desde a idade Antiga, como veremos mais adiante no Mito de Penélope, a esposa de Odisseu (Ulisses).
Na Odisseia¹, datada provavelmente dos finais do século VIII a.C. Homero narra o fazimento durante o dia e o desfazimento, à noite, da famosa mortalha tecida por Penélope para aguardar a chegada do seu amado esposo Odysseus (Ulysses)
No início do século XX, o pintor inglês John William Waterhouse representou a técnica do desfazimento de malhas no quadro “Penelope and the Suitors” (“Penélope e os Pretendentes”), de 1912.

O Mito de Penélope
Na mitologia grega, Penélope é a esposa de Odisseu (Ulisses para os romanos), e filha de Icário e de Periboea.
Por dez anos, Penélope esperou a volta de seu marido da Guerra de Troia e a longa viagem do retorno de Ulisses é o tema da Odisseia, obra de Homero.
Na mitologia grega, Penélope é a esposa de Odisseu (Ulisses para os romanos), e filha de Icário e de Periboea. Por dez anos, Penélope esperou a volta de seu marido da Guerra de Troia e a longa viagem do retorno de Ulisses é o tema da Odisseia, obra de Homero.
Seu pai, um corredor campeão não iria permitir que ninguém se casasse com sua filha, a menos que pudesse vencê-lo em uma corrida. Ulisses o fez e casou-se com Penélope. Depois que eles se casaram, Icarius tentou convencer Ulisses a permanecer em Esparta. Ele saiu com Penelope, mas Icário seguiu-os, implorando sua filha para ficar. Ulisses disse que ela devia escolher se desejava ficar com o pai ou com o marido. Penélope não respondeu, mas modestamente cobriu o rosto com um véu. Icário entendeu corretamente que isso era um sinal de sua vontade de sair com Odisseu, deixou-os ir e ergueu uma estátua de Aidos (modéstia) no local.
Ela teve apenas um filho com Ulisses, Telêmaco, que nasceu pouco antes de seu marido ser chamado para lutar na Guerra de Troia.
Os anos passavam e não havia notícia de Ulisses, nem se estaria vivo ou morto. Assim, o pai de Penélope sugeriu que sua filha se casasse novamente. Penélope, fiel ao seu marido, recusou, dizendo que esperaria a sua volta.
Diante da insistência do pai e para não o desagradar, ela resolveu aceitar a corte dos pretendentes à sua mão, estabelecendo a condição de que o novo casamento somente aconteceria depois que terminasse de tecer um sudário² para Laerte, pai de Ulisses. Com esse estratagema, ela esperava adiar o evento o máximo possível.
Durante o dia, aos olhos de todos, Penélope tecia, e à noite, secretamente, ela desmanchava todo o trabalho. E foi assim até uma de suas servas descobrir o ardil e contar toda a verdade.
Ela então propôs outra condição ao seu pai. Conhecendo a dureza do arco de Ulisses, ela afirmou que se casaria com o homem que o conseguisse encordoar. Dentre todos os pretendentes, apenas um camponês humilde conseguiu realizar a proeza. Imediatamente este camponês revelou ser Ulisses, disfarçado após seu retorno.
O tricô hoje
Dessa maneira, podemos concluir, finalmente, que essa prática milenar, que avançou no tempo e passou a ser utilizada de forma mecânica e industrial, ainda encanta na sua forma artesanal, seja como hobby, terapia ou ainda como um micro negócio.
No livro The Culture of Knitting, de Joanne Turney, ela aborda o tricô como arte, artesanato, design, moda, performance e como um aspecto do cotidiano, da rotina que às vezes incomoda, que estressa e provoca a desconfortável inquietação provocada pela ansiedade. É nesse sentido que, a cada ano, se percebe cada vez mais o número de pessoas que se voltam em busca do bem-estar e procuram, para isso, formas variadas de aliviar o estresse do seu dia a dia. Não há limites para a imaginação e não há nenhum mal que o ser humano não consiga superar. Pois bem, o tricô ou outras práticas artesanais, propõe isso.
¹ Odisseia é um poema épico do século IX a.C., descrito pelo poeta grego Homero, que narra as aventuras do herói Ulisses, na sua viagem de retorno para “Ítaca”, após a Guerra de Troia. O nome “Odisseia” vem de “Odysseus”, herói grego, rei de Ítaca, que os latinos chamaram de Ulixes (Ulisses).
². Sudário. Espécie de lençol com que se envolve o cadáver; mortalha.
Referências Bibliográficas
Acesso em 11/05/2022
Acesso em 11/05/2022